Corpos reais: seis características que devemos normalizar em todos os corpos
Você sabe por que precisamos da normalização de corpos reais? Hoje falaremos sobre a importância da diversidade estética!
Pêlos, marcas na pele, dobrinhas pelo corpo, barriga protuberante.
Essas são apenas algumas das características naturais de um copo que a pressão estética da sociedade quer pôr fim.
Mas o que tem de errado com essas particularidades? Por que pessoas que têm alguma dessas características não podem ser consideradas bonitas?
A verdade é que, independente de como é ou está o seu corpo: há beleza nele. Mas, infelizmente, existe um pacto social para te fazer pensar o contrário. E essa é só uma das razões pelas quais precisamos tanto da normalização de corpos reais.
Para te ajudar a entender melhor a importância desse movimento, vamos abordar neste texto os seguintes tópicos:
- Sem edição e sem retoques: os reais corpos reais
- Características do corpo que podemos (e devemos) normalizar
- A normalização de corpos reais é um processo
Sem edição e sem retoques: os reais corpos reais
Você já se perguntou o que é um corpo real? Pensando de forma prática, qualquer tipo de corpo se encaixa nessa definição. Por aí podemos entender melhor o que queremos dizer quando falamos sobre a normalização de corpos reais: é sobre toda a diversidade que isso engloba.
Um exemplo interessante para começarmos essa discussão é a música da cantora Anitta “Girl from Rio” e seu clipe, que resumem muito bem esse assunto.
Isso porque o vídeo traz justamente a naturalidade de um universo de corpos diferentes.
Nele você vê tanto mulheres magras quanto mulheres gordas, homens com barrigas protuberantes, corpos com celulite… Tudo isso, sem a tentativa de mostrar que essas características são melhores ou piores do que outras. Algo que a própria letra da música também reitera.
Mas o clipe vai além de suas imagens, e ressalta também a importância de vermos esse tipo de representação na mídia.
Você já parou para pensar se tem algum tipo de preconceito com corpos fora do padrão? Já tentou entender por que acha uma característica física menos bonita do que outras?
Tenha certeza que, independente da sua resposta para essas perguntas, o que consumimos (vídeos, músicas, posts em redes sociais, etc) influencia diretamente na nossa perspectiva.
Por isso o clipe de “Girl From Rio” é um exercício para identificarmos se nossa visão já está habituada à essa diversidade ou não. E se não estiver, é hora de mergulhar mais fundo neste mar de possibilidades e passar a entender a beleza que tem no seu corpo e em todos os outros que te rodeiam.
Por que normalizar corpos reais?
Vale lembrar que não se trata apenas de um processo para aceitar corpos diversos. É importante entender que há toda uma indústria estética que lucra com a rejeição a determinadas características (veja abaixo). Uma indústria que mira especialmente em mulheres e que exclui tantas pessoas das experiências que oferecem por não serem acessíveis.
Então, além de prejudicar nossa perspectiva sobre nós e sobre o mundo, a falta de normalização de corpos reais ainda ressalta diferenças sócio-econômicas.
Características do corpo que podemos (e devemos) normalizar
Há características corporais que são extremamente comuns na maioria dos corpos, mas que são tratadas como grandes defeitos dos quais devemos fugir. Mas estamos aqui para te ajudar desconstruir os estigmas que gira em torno de:
- Pêlos
- Marcas de expressão e na pele
- Estrias
- Celulites
- Culotes
- Barriga protuberante ou dobrinhas pelo corpo
1) Normalização de corpos reais com pêlos
É completamente natural: a partir do momento em que entramos na puberdade, os pêlos surgem — nas regiões íntimas, no rosto, nas axilas e outras partes do corpo. E ao contrário do que muitas pessoas pensam, ninguém tem a obrigação de tirá-los.
Nem mesmo as mulheres, que são as que mais sofrem com esse tipo de pressão estética.
A verdade é que a depilação é algo optativo e culturalmente influenciado, e isso não deve depender de seu gênero.
Outra ideia equivocada sobre corpos sem pêlos — principalmente na região íntima — é a que propõe que depilação é garantia de higiene. De acordo com o portal Drauzio Varella, inclusive, a higiene íntima não tem nada a ver com presença ou ausência de pêlos.
Considerando isso, vale se perguntar: me depilo porque quero ou porque me ensinaram que era o certo? Devo continuar a fazer isso?
Se houver dúvidas, é interessante você fazer um teste e passar algum tempo sem tirar os pêlos e ler sobre a experiência de pessoas que também não têm o hábito da depilação.
Após se perguntar e, talvez experimentar, não se culpe caso você queira continuar se depilando. É importante você se sentir à vontade com o seu corpo. Mas, lembre-se: é importante também respeitar corpos alheios.
Então pratique entender que os pêlos — seja no seu corpo ou no corpo alheio — são naturais. Não julgue e aprenda a olhar com a naturalidade devida.
2) Normalização de corpos reais com marcas de expressão e na pele
As marcas de expressão e na pele também costumam passar longe do que a beleza ideal dita nos dias de hoje: uniformidade.
No caso das marcas na pele, inclusive, isso pode estar relacionado ao tópico anterior, visto que determinados tipos de depilação provocam o escurecimento das regiões depiladas.
Mas primeiro é preciso entender que: a partir do momento em que você começa a depilar — especialmente com gilete — essa é uma possibilidade. E sem segundo: ter uma parte do seu corpo mais escura não faz dela feia.
Quanto às marcas de expressão, mais uma vez, precisamos reconhecer que o padrão estético, na maior parte das vezes, vai contra o desenvolvimento natural humano. Afinal, essas marcas surgem, inevitavelmente, com o passar dos anos.
3) Normalização de corpos reais com estrias
Outra vilã do ideal estético da sociedade são as estrias. Você pode identificá-las no seu corpo como aquelas tiras esbranquiçadas ou avermelhadas. E, de acordo com reportagem da BBC, nada mais é que o resultado do rompimento de fibras de colágeno.
Isso ocorre quando a pele passa por algum tipo de estiramento rápido, como no caso de pessoas grávidas e em fase de crescimento, por exemplo. Também ocorre com quem passa pelo chamado efeito sanfona — engordar e emagrecer várias vezes seguidas.
Vale considerar também que entre os outros fatores que causam ou agravam a possibilidade de desenvolver estrias estão: a genética familiar e o estresse.
Portanto, essas tirinhas que aparecem no seu corpo também são resultados de processos naturais, e não merecem a atenção negativa que recebem.
4) Normalização de corpos reais com celulites
Ao contrário do que algumas pessoas podem achar, celulite não caracteriza uma doença, mas sim um acúmulo de gordura sob a pele. De acordo com a Biblioteca Virtual em Saúde do Ministério da Saúde, ela “tende a ocorrer nas áreas onde a gordura está sob a influência do hormônio feminino (estrógeno).”
Por isso, inclusive, é que normalmente encontramos as celulites em regiões como coxas e nádegas, e principalmente nas mulheres. Mas não ache que, por isso, apenas mulheres podem ter celulites, corpos masculinos também podem apresentar essa característica — mesmo que em uma frequência bem menor.
Engana-se também quem acredita que celulites aparecem apenas em corpos gordos. Essas marcas são extremamente comuns em todos os tipos de corpos, inclusive os tão cultuados corpos magros. E isso não quer dizer que se trata de um tipo de “defeito” que tanto pessoas gordas quanto magras podem ter.
É preciso entender que se trata apenas de uma característica facilmente adquirida por, na maioria das vezes, qualquer mulher.
E essa ideia de que a celulite é algo negativo, como bem aponta esta leitura sugerida, beneficia muito mais a indústria da estética, que é quem lucra no fim das contas. Enquanto isso, as pessoas que, de fato, tem celulites, sofrem por serem ensinadas que aquela marca no seu corpo é considerada indesejada e feia. O que não é verdade.
Com toda essa discussão estética em torno das celulites, inclusive, quase não se fala sobre os graus que estas apresentam e a gravidade de cada um deles. Isso porque, nos graus 3 e 4 (existem quatro graus, no total), é possível que a pessoa sinta dores nas regiões em que a celulite se localiza. E aí sim é preciso se preocupar e se cuidar: procure sempre dermatologistas nesses casos.
5) Normalização de corpos reais com culotes
Experimente pesquisar o termo “culote” no google. Quantos resultados definiram o que é o culote e quantos resultados apontaram formas de “se livrar” dessa característica?
Quando você pesquisa “o que é culote” a situação fica ainda mais estranha: a maior parte dos resultados direcionam para sites de clínicas e de dicas sobre cirurgias estéticas.
Não é como se você não pudesse fazer esse tipo de cirurgia. O problema aqui é que as referências em torno de uma característica corporal simples são reduzidas à formas de dar fim à ela.
E esse cenário apenas piora a pressão sofrida por pessoas que têm culote — que nada mais é que uma gordura localizada, que fica concentrada entre quadril e coxas.
Ao contrário do que muitas pessoas podem achar, essa concentração de gordura que leva a formação dos culotes pode ser influenciada por diferentes fatores. Não se trata apenas de alimentação, mas também de genética e hormônios. Por isso, algumas pessoas têm maior predisposição a desenvolvê-los.
Mas, independente da origem dessa característica, é importante lembrar que corpos com culotes são corpos reais. E que não há nada de errado nisso.
6) Normalização de corpos reais com barriga protuberante ou dobrinhas pelo corpo
Cada vez mais nos aproximamos de um ideal de barriga quase negativa. E, para alcançar esse padrão, muitas pessoas acabam colocando em risco a própria vida — seja através de dietas extremamente restritivas, treinos inadequados ou mesmo procedimentos estéticos irresponsáveis.
Mas é preciso entender que para ter um corpo bonito, uma aparência da qual você gosta, não é necessário ter um tipo de barriga chapada.
Para começar, vamos falar de saúde. É importante lembrar que não existe uma relação direta entre uma vida saudável e um tipo específico de corpo. E uma barriga protuberante ou dobrinhas pelo seu corpo não te impedem de ter uma saúde de qualidade.
Com relação à satisfação estética, o processo de ver beleza em corpos não-magros é um pouco mais complexo. Isso porque socialmente, é a magreza que carrega essa ideia de beleza. Então, muitas vezes, é preciso entrar em contato com uma nova diversidade de corpos e ideias sobre esses corpos para começar a compreender essa beleza.
A normalização de corpos reais é um processo
Como falado no tópico acima, há todo um processo de entender a beleza para além daquilo que a sociedade estabelece e nos diz que é bonito. Por isso, a normalização de corpos reais é um processo — que devemos ter paciência para trilhar e apresentar a outras pessoas. E nesse processo, há alguns passos que podem te ajudar.
Siga perfis que mostram corpos diversos nas redes sociais
Um início interessante é diversificar nossas referências, algo que as redes sociais podem nos ajudar a fazer com poucos cliques. Já que passamos tanto tempo online nessas plataformas, é interessante seguir perfis que mostram corpos diferentes sem estigmatizá-los.
Vale encontrar novos influenciadores digitais e até mesmo páginas que são voltadas para esse tipo de conteúdo, como a Normalize Corpos Reais. Através dessa pequena mudança, você poderá ver a capacidade prática desses corpos e descobrir a beleza deles.
Consuma mídias que reconheçam e celebrem a diversidade
Esse consumo online pode ainda ir além das redes sociais e se estender para outros tipos de consumo midiático. Indo de artistas no mundo da música que reconheçam e incentivem discursos inclusivos até programas de TV com essa mesma pegada.
Uma dica do blog da Arimo que junta a diversidade de corpos e a vida ativa é o reality show. Lizzo’s Watch Out for the Big Grrrls. O programa, disponível no Amazon Prime Video, acompanha uma competição entre mulheres fora do padrão de magreza por um posto na equipe de dançarinas da cantora Lizzo.
Outro reality que ajuda a trazer novas perspectivas nesse sentido é Queer Eye, disponível na Netflix.
Entenda que esse processo não muda nossa visão instantaneamente
Outro ponto interessante nesse processo é entender que não vamos mudar a forma como olhamos o mundo de uma hora para a outra. Por isso, podemos levar algum tempo até normalizar corpos fora do padrão. E tudo bem. O importante é você entender que essa normalização é necessária para você e todas aquelas pessoas que te rodeiam.
Uma visão interessante para você que está em um processo mais lento, é conhecer o movimento de neutralidade corporal ou body neutrality. Isso porque, diferente do body positive, que prega a celebração de corpos fora do padrão, a neutralidade corporal propõe focar menos na estética e mais na funcionalidade.
Além disso, o movimento entende que é possível amarmos nossa aparência em um dia, e em outro não nos sentirmos tão bem com nossa forma física. Assim como podemos passar por um longo tempo de insatisfação com o que encontramos no espelho.
Apesar disso, a neutralidade corporal determina que isso não precisa significar ódio ao nosso corpo e à corpos fora do padrão. O movimento ensina que o corpo é uma ferramenta para vivermos a vida. É através dele que podemos trabalhar, estar com quem gostamos, ir a lugares, etc. O foco deixa de ser a estética e passa a ser a funcionalidade.